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Na psicanálise, o fim de um amor não se resume à perda de afeto — ele revela uma complexa rede de construções psíquicas inconscientes.
Freud e Lacan destacam que muitas vezes não amamos o outro em sua totalidade, mas sim a imagem idealizada que projetamos nele. Quando esse outro deixa de amar, o que desmorona não é apenas o vínculo, mas também parte da identidade que nele investimos.
A dor da perda frequentemente é intensificada pela quebra desse ideal. Colocamos no outro expectativas irreais, exigências que ultrapassam o que ele realmente pode oferecer. Assim, quando o amor termina, muitas vezes o que está ruindo é a fantasia construída e não necessariamente o outro em sua realidade.
Lacan observa que o desejo está enraizado na falta. Quando somos amados, sentimos momentaneamente essa falta amenizada. Mas quando deixamos de ser, a angústia da incompletude retorna com força, e com ela a incerteza sobre quem somos sem aquele amor que parecia preencher o vazio.
Além disso, o fim de um amor pode reativar experiências precoces, como rejeições vividas na infância. Através do mecanismo de transferência, repetimos nos vínculos amorosos dinâmicas com figuras parentais. Nesse sentido, o sofrimento atual pode carregar ecos do passado.
Freud nos lembra que, diante da perda, é preciso elaborar o luto. Um luto saudável permite redirecionar a energia psíquica para novos investimentos. Já a melancolia paralisa, aprisiona o sujeito ao objeto perdido.
Portanto, quando o outro deixa de te amar, a psicanálise propõe: escute o que essa perda revela sobre você. No sofrimento, pode haver uma oportunidade de autoconhecimento, de resgate de si mesmo e de transformação.
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