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Covid-19 Vitale

“Em tempos de pandemia”, uma reflexão do Dr. Paulo Moreira

A pandemia desafia a olhar para dentro de nós
Cuidado em tempo integral, de sí e de nossos familiares, a pandemia nos deixou em alerta e o que esse alerta nos tornou?

Nestes tempos de pandemia da Covid tenho conversado mais com os clientes. Nestas conversas, frequentemente ouço alguma palavra que me desperta curiosidade. São palavras chaves cheias de significados. Estas palavras abrem uma janela para o mundo interior da pessoa e suas circunstâncias. Em algum momento, interrompo a fala e chamo a atenção para a palavra dita. Repito-a, solicitando que reflita sobre o significado do que está dizendo. Paro novamente para escutar e incentivo que a coloque para fora. Apoio a fala dizendo que fale o que lhe aflige, falar sobre algo que está incomodando é catártico. A maioria das pessoas se surpreende com a abordagem. Não estão acostumadas a falar de si. Pois antes de falar de si, é preciso pensar em si. É um diálogo que se estabelece com a própria pessoa. A maioria não sabe como manter este diálogo interior.

Fomos educados a cuidar dos outros. E isto é compreensível e moralmente correto. No entanto, somente quem sabe cuidar de si mesmo pode cuidar dos outros. O que ficou muito claro nestes tempos de Covid-19 e quarentena. E justificável para que a pessoa não se contamine e não transmita o vírus para outros. Saber cuidar-se é uma ação integral de cuidados dos aspectos físicos e mentais de cada pessoa. É mais comum a ideia de cuidar dos aspectos físicos de nossa saúde. Menos comum é cuidarmos dos nossos aspectos mentais. O primeiro passo é ter a consciência daquilo que pensamos e sentimos. Os sentimentos são comumente recalcados e normalmente desvalorizados. A falta de consciência do que pensamos ou sentimos nos torna emocionalmente fracos. E precisamos, para viver bem, ser mentalmente fortes. Então, cuidar do estado mental é ouvir a sua voz interior.

O nosso cérebro gira muito rápido em tempos de pandemia

Os pensamentos se sucedem a uma velocidade muito grande, misturando vários assuntos ou preocupações. Esta velocidade do pensamento acaba por gerar ansiedade. Como são pensamentos velozes e de vários tipos, isto causa uma sensação de não compreensão. A velocidade elevada do pensamento excede a nossa capacidade de captação. Assim para compreender nossos pensamentos precisamos lentificá-los. A lentificação é produzida pela fala ou escrita. Em ambas as situações precisamos focar naquilo que estamos pensando ou nas preocupações que temos e expô-las através da fala ou escrita. Isto exige concentração. O foco e a concentração permitem que compreendamos os pensamentos que nos afligem. Ao expô-los pela fala ou escrita, os ouvimos ou os lemos e podemos entendê-los.

Quando exponho aos pacientes a importância de falar ou escrever, imediatamente consideram para quem falar. Não são todos os que sabem ouvir. Quem fala não quer ser criticado, censurado ou interrompido. Quem ouve não deve sentir-se obrigado a dar um conselho. Só ouvir já é útil. Ouvindo estamos ajudando o outro a compreender suas aflições.

Já o escrever, depende só da gente. Mas também não é fácil. Há várias dificuldades, como a garantia da privacidade. Aquilo que escrevemos é um conteúdo pessoal e restrito, não interessando a ninguém mais. Outra dificuldade é a linguagem que precisa ser rica para traduzir nossos sentimentos. Mas a principal é a nossa autocensura. A escrita materializa o que pensamos e algumas vezes nos envergonhamos dos nossos pensamentos. Liberte-se.