As noites amenas de verão convidam ao devaneio. A brisa agradável no ar nos coloca disponíveis. Disponíveis para o contato com os outros, ou disponível para sonhar. Isto propicia a conversa sem pressa ou o olhar perdido no céu. Ao ar livre, nos bares, nas sacadas, no campo. Podemos olhar a cidade que se movimenta na noite, ou as pessoas que se cruzam nos bares. Ou perscrutamos o escuro para compreender suas sombras.
Por momentos ou por horas conseguimos sair do cotidiano e sonhamos acordados. No devaneio podemos ser outro. Exercitar a sensação de ser outra pessoa. Se triste, seria alegre. Pobre, seria rico. Se estivesse só, estaria bem acompanhado. Se feio, bonito. Ter outra vida, enfim. A vida sonhada que seria diferente da vida vivida. No mínimo é um consolo. Saber que a gente pode sonhar uma vida melhor é um atenuante. Pois quando o sonho acaba, ficamos somente com a dura realidade. Mas, tantas coisas boas que se constroem, começam em um sonho. O sonho é resultado de algo produzido em nosso subconsciente. Algo que por vezes nos acompanha por muito tempo. Geralmente é um pensamento recorrente, esperando um momento de relaxamento da consciência, um apagão da realidade para que apareça. De alguma forma o sonho nos norteia. É uma direção que gostaríamos de seguir ou que seguiremos em seu devido tempo.
O dia a dia é por vezes massacrante. A realidade pode ser pesada. Os compromissos, as tarefas, o trabalho, a vida enfim desgasta. Vamos sendo levados, sem muito tempo para pensar. As pessoas repetem que a vida está uma loucura. Alguns tentam fazer várias coisas ao mesmo tempo. Logo sentem um cansaço ou ficam paralisados pelo estresse. Ao final do ano então, tudo parece pior. Os compromissos se avolumam e os prazos se encerram. Assim o verão que se aproxima vem como uma benção. E junto vêm as férias e as festas de final de ano. Pode até ser tudo uma ilusão. O tempo segue inexorável e a vida também. Mas a ilusão e a fantasia são necessárias.
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A ilusão e a fantasia fazem parte do sonho. E de certa forma refletem a nossa alma. Os conteúdos dos sonhos, das fantasias e dos devaneios são parte do nosso mundo interno. É uma riqueza que temos dentro de nós, e que pode ser revolucionário. Por isto o sonho também foi temido. O sonho é a origem do desejo. E quase todos nós somos seres desejantes. Muitas vezes frustrados pelos desejos não realizados. Mas dificilmente conseguimos não ter desejos. Embora algumas religiões e alguns partidos políticos quisessem abolir ou controlar o sonho e o desejo. Aquilo que vai crescendo dentro de nós como um sonho ou desejo pode se transformar em realidade e isto é revolucionário. E também pode ser libertário. A liberdade de pensarmos e sonharmos com o que quisermos. Possível ou impossível. Não importa. Importa é que nada existirá sem antes ter sido um sonho. E por que não um sonho de uma noite de verão?
Dr. Paulo Ricardo Moreira
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