Ouça este conteúdo
Um olhar psicanalítico para entender as dores que ninguém conta
O amor romântico, tão presente em nosso imaginário coletivo, costuma ser visto como promessa de completude. No entanto, a psicanálise revela que essa busca pela “metade da alma” expõe, mais do que resolve, nossas faltas mais profundas. Desde Freud, sabe-se que amar é reencontrar traços inconscientes das primeiras relações que moldaram nosso modo de desejar e de sofrer. Assim, muitas vezes projetamos no parceiro a fantasia de que alguém é capaz de preencher antigas carências. Quando essa expectativa não se realiza, não sentimos apenas a ausência do outro, mas o impacto doloroso da queda da ilusão de completude, aquilo que os psicanalistas chamam de ferida narcísica.
Lacan aprofunda essa compreensão ao afirmar que “amar é dar o que não se tem”. Em outras palavras, o amor é oferta de falta, nunca de plenitude. O sofrimento amoroso emerge justamente quando percebemos que o outro, assim como nós, também é incompleto e não pode nos oferecer garantias absolutas. A dor que surge nas relações, portanto, não é apenas fruto do comportamento do parceiro, mas do confronto entre as fantasias que criamos e a realidade da condição humana.
Vivemos em uma época que idealiza o amor como solução mágica para traumas e vazios. A psicanálise propõe um olhar mais honesto: o amor não cura nossas faltas, mas nos permite habitá-las de forma menos solitária. Ao reconhecer que ninguém nos completa, e que isso não precisa ser motivo de desespero, abrimos espaço para um amor mais livre, menos dependente e mais verdadeiro. Assim, a dor amorosa deixa de ser fracasso e passa a ser oportunidade de crescimento, reflexão e transformação subjetiva.
Por Fabiana Fagundes Barasuol, MSc., Doutoranda nos EUA
Psicanalista; Graduada em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde; Neuropsicopedagoga e Psicopedagoga; Terapeuta Ocupacional e Fonoaudióloga (em formação). Pesquisadora com artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior. Docente e profissional atuante em saúde e educação.


























Adicione Comentário