Nestes 18 anos atendendo famílias e casais, uma temática que nunca se esgota é a educação dos filhos. A vida moderna e a correria do dia a dia cada vez mais exigente faz com que muitos casais adiem o plano de ter filhos ou até mesmo desistam. Entretanto, aqueles que optaram por fazer a família crescer, as dúvidas são muito frequentes e a abordagem educacional da atualidade exige atenção.
Dentre os dramas educacionais mais frequentes em primeiro lugar, disparado, está a formação de limites da criança e do adolescente. Não é raro os pais se lamentarem por que um filho não os deixou viajar, ou não pode leva-lo ao mercado, ou não quer sair da cama dos pais. Então é importante saber: crianças têm desejos e esses desejos são infindáveis! Aos adultos cuidadores que se exigirem suprir todos os desejos dos pequenos, aviso: não é esse o melhor caminho. Temos que discernir entre o que é um desejo e uma necessidade, só um adulto tem essa noção, e se não tiver, deverá buscar orientação para aprender esse discernimento.
Obviamente que as crianças costumam chorar ou brigar ao serem contrariadas ou privadas nos seus desejos. Quando os pais dizem que não proíbem um doce antes do almoço, ou não proíbem a TV até a madrugada porque a criança chora, essa não é uma explicação razoável para não exercer sua posição adulta sobre a criança. O adulto é que deve entender que vai pedir para a criança tomar banho porque já está na hora, e a criança poderá reivindicar, chorar, argumentar, mas a hora do banho deve ser cumprida com choro e tudo mais. Um adulto que solicita ao filho que colabore com as tarefas da casa secando a louça, poderá receber uma reação negativa, brigas, argumentações e nessa hora eu, no caso, sempre digo: “Você pode secar a louça reclamando e gritando, ou secar a louça me fazendo companhia enquanto estou lavando numa conversa agradável, mas não secar a louça não é uma opção!”.
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Aos pais, adultos e cuidadores um remédio muito eficaz é conversar, explicar e ter paciência. É lembrar que seu filho está em formação, está crescendo e não se pode desistir deles, não estão prontos, não podemos pensar que falando uma só vez será o suficiente para que ele nunca mais reclame ou que ele nunca mais precise ser avisado de seus compromissos.
Vou usar outro exemplo muito comum de estresse familiar. Filhos pequenos que não saem do quarto dos pais. Algumas crianças são bastante resilientes com essa questão, outras são muito, mas muito resistentes. Em ambos os casos, quem determina a saída da criança do quarto do casal é o casal. Ninguém mais. Quando o casal deixa para que a criança decida por um tema tão sério, é certo que ela não saberá o que fazer. Dormir em um quarto sozinho é certo, é adequado, é saudável. Ao passo que dormir no quarto dos pais é um fator de estresse para a criança. Cabe aos pais abrir mão do seu sossego temporário (adiando o choro da criança) em detrimento de um crescimento emocional importante para seus filhos, ainda que isso lhe custe muitas noites de sono mal dormidas, várias caminhadas entre um quarto e outro, choro e birra. Somos nós pais, adultos responsáveis que devemos zelar pelo crescimento físico e mental dos filhos da maneira mais adequada possível.
Quando falamos em crescer de maneira adequada não significa proteger os filhos de todo e qualquer mal estar. É importante que os filhos se frustrem, se defendam, demonstrem seus sentimentos e desgostos. Os pais estarão por perto para amparar e orientar sobre o que gerou tal desconforto. Os pais não são escudos permanentes, pois a vida oferece muitos percalços, e não podem desviar todos.
Dar limites é importante em todas as fases. Atualmente enfrentamos mais um obstáculo na criação dos filhos que é a tecnologia. Os pais não podem se esconder na trincheira da ignorância, por não usarem redes sociais, internet ou smartphones com tanta habilidade como seus filhos e ignorar também os riscos do mau uso destes instrumentos.
As famílias estão sofrendo com muita frequência desses danos por falta de informação. As novas gerações estão vivendo dramas de difícil recuperação por não preverem estragos causados pela superexposição nas redes. Há vinte anos, os pais explicavam para não conversar com estranhos na rua, numa festa, na saída da escola. Hoje, reforçam este aviso sobre as redes sociais. Jovenzinhos muito novos ainda confiam segredos íntimos com um público desconhecido das redes sociais e amargam dolorosas experiências que depois precisam ser tratadas por longo tempo.
Restringir o uso do celular ou do computador também poderá gerar uma guerra de palavras, reações exageradas, mas lidar com o drama do seu mau uso, seguramente é muito pior. Por fim, é hora de todos os pais serem nutridos de seu poder adulto da responsabilidade de formar outro ser, que será um adulto também. Isso não é um compromisso pequeno. É uma vida. É um futuro inteiro. Pais que buscam se fortalecer para brigar com requinte e graciosidade, vão oferecer muitos recursos aos seus filhos para enfrentarem o mundo quando se tornarem adultos e independentes.
Viviane Dias – Psicóloga
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