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Medicina

Tuberculose: tudo sobre a transmissão da Mycobacterium tuberculosis

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Sendo uma doença infecciosa com as maiores taxas de mortalidade de sua classificação, a Tuberculose é um derivado do complexo Mycobacterium tuberculosis e suas formas de transmissão são diversas.

Ao falar, espirrar ou tossir, pequenas gotas de saliva que contêm o agente infeccioso podem ser aspiradas por outra pessoa e assim, acabar sendo infectada também.

Embora o único meio de transmissão da doença seja por vias aéreas, a bactéria pode entrar na corrente sanguínea e infectar outros órgãos, mesmo sem se manifestar.

Para entendermos mais sobre essa doença tão preocupante e de questão pública, conversamos com o médico infectologista Dr. Sérgio David Jaskulski Filho.

Conforme explica o médico, a Tuberculose pode ser causada por qualquer uma das sete espécies que integram o complexo Mycobacterium tuberculosis: M. tuberculosis, M. bovis, M. africanum, M. canetti, M. microti, M. pinnipedi e M. caprae.

Sabemos que regionalmente e em saúde pública, a espécie mais importante é a M. tuberculosis, conhecida também como bacilo de Koch.

Formas da tuberculose

  • Pulmonar: quando o bacilo se instala nos pulmões e eles são afetados, sendo a forma mais comum. Causa sintomas como tosse, com sangue ou sem dor e dificuldade de respirar.
  • Ganglionar: acontece quando a bactéria se instala nos gânglios, área que concentra células de defesa. Os sintomas são inchaço dos gânglios, inflamação, vermelhidão e dor no local afetado.
  • Pleural: neste caso, o bacilo afeta a pleura, membrana que reveste os pulmões. Dessa forma, causa febre, falta de ar, astenia (perda ou diminuição da força física), emagrecimento, tosse e dor torácica.
  • Óssea: o bacilo da tuberculose também pode afetar ossos, sendo as mais frequentes vértebras, ossos longos e grandes articulações (como quadril, joelho e tornozelo).A febre, emagrecimento, fraqueza muscular, dor óssea, limitação dos movimentos e atrofia são sintomas.
  • Cutânea: considerada uma das formas mais raras, esta doença se manifesta na pele de diversas formas, como através de úlceras, abcessos, nódulos e hiperqueratose os sintomas são: úlceras, abcessos, nódulos e hiperqueratose.

“A Tuberculose Cutânea corresponde à inoculação do Mycobacterium tuberculosis na pele. A reação é a hipersensibilidade devido à presença do bacilo de Koch no organismo, mas não no local da lesão, são a vasculite nodular e o eritema nodoso”, explica o médico.

Transmissão da tuberculose

Do mesmo modo, a transmissão da tuberculose em qualquer uma de suas formas faz por via respiratória. Tanto pela inalação de aerossóis produzidos pela tosse, quanto pela fala ou espirro de um doente com tuberculose ativa pulmonar ou laríngea.

“As gotículas exaladas rapidamente se tornam secas e transformam-se em partículas menores. Essas partículas menores (bacilos) podem manter-se em suspensão no ar por muitas horas e são capazes de alcançar os alvéolos. Podem se multiplicar e provocar a chamada primo-infecção. Outras vias de transmissão (pele) são raras e desprovidas de importância epidemiológica” ressalta o infectologista.

Entretanto, os bacilos que se depositam em roupas, lençóis, copos e outros objetos dificilmente se dispersam em aerossóis e, por isso, não têm papel na transmissão da doença.

Tempo de infecção e transmissão da tuberculose

Estima-se que uma pessoa com baciloscopia (exame que detecta a Tuberculose pulmonar) positiva, infecte de 10 a 15 pessoas em média, durante um ano.

“Em geral, esses pacientes têm a forma Tuberculose pulmonar cavitaria ou, mais raramente, a Tuberculose laríngea”, acrescenta.

Nesse sentido, com o início do tratamento, a transmissão tende a diminuir gradativamente e, em geral, após 15 dias, ela encontra-se muito reduzida.

“A importância de realizar o exame de detecção reside não somente na confirmação da eficácia do esquema terapêutico, mas também na avaliação de risco para os contatos”, alerta o médico.

Além disso, ele ainda explica que o bacilo é sensível à luz solar, e a circulação de ar possibilita a dispersão de partículas infectantes. Do mesmo modo, ambientes ventilados e com luz natural direta diminuem o risco de transmissão.

Risco de adoecimento

Conforme o risco de adoecimento, isto é, a progressão para a Tuberculose ativa após infecção, depende de fatores endógenos. Em especial, da integridade do sistema imune.

“Possuem maior risco de adoecimento pessoas nos primeiros dois anos após exposição, com idade menor que 2 anos ou maior que 60 anos. Também, a presença de determinadas condições clínicas como doenças e/ou tratamentos imunossupressora”, acrescentou.

Além dos fatores relacionados ao sistema imunológico de cada pessoa e à exposição ao bacilo, o adoecimento por tuberculose, muitas vezes, está ligado às condições precárias de vida. Assim, alguns grupos populacionais podem apresentar situações de maior vulnerabilidade.

  • Vivendo em situação de rua: 56 vezes maior.
  • Pessoas vivendo com o HIV: 25 vezes maior.
  • Privadas de liberdade: 28 vezes maior.
  • Indígenas: 3 vezes maior.

Tratamento

O tratamento da tuberculose dura no mínimo seis meses, é gratuito e está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

“É uma doença curável em praticamente todos os casos, até em pessoas com bacilos sensíveis aos medicamentos antituberculose (antiTB).  Desde que obedecidos os princípios básicos da terapia medicamentosa e que haja a adequada operacionalização do tratamento”, confirma o médico.

Dessa forma, o infectologista ressalta também que para o sucesso do tratamento da tuberculose, é fundamental que o profissional de saúde acolha o usuário no serviço de saúde, desde o diagnóstico até a alta. “A abordagem humanizada e o estabelecimento de vínculo entre profissional de saúde e usuário, com escuta de saberes, dúvidas, angústias e a identificação de vulnerabilidades, auxiliam tanto no diagnóstico como na adesão ao tratamento”.

“O paciente deve ser orientado, de forma clara, quanto às características clínicas da Tuberculose e do tratamento ao qual será submetido. Informações referentes aos medicamentos, consequências do uso irregular, eventos adversos, controle de contatos e duração do tratamento devem ser fornecidas desde o primeiro contato com o paciente”, acrescentou.

Nesse sentido, o esquema de tratamento da tuberculose é padronizado e é realizado de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde e compreende duas fases: a intensiva (ou de ataque) e a de manutenção.

A fase intensiva tem o objetivo de reduzir rapidamente a população bacilar e a eliminação dos bacilos com resistência natural a algum medicamento. Uma consequência da redução rápida da população bacilar é a diminuição da contagiosidade. Para tal, são associados medicamentos com alto poder bactericida.

A fase de manutenção tem o objetivo de eliminar os bacilos latentes ou persistentes e a redução da possibilidade de recidiva da doença. Nessa fase, são associados dois medicamentos com maior poder bactericida e esterilizante, ou seja, com boa atuação em todas as populações bacilares.

Em conclusão, a prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para controlar a propagação da doença e proteger a saúde pública. Conscientizar a população sobre a transmissão da tuberculose e as medidas preventivas é essencial para combater essa doença globalmente.

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