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Medicina Vitale

Missão: saúde no Amazonas

Volta ao mundo pela saúdeO médico Roberto Etchegoyen, de Cruz Alta, participou recentemente de uma missão para atendimento das populações ribeirinhas no Rio Javari, situado na fronteira do Brasil com o Peru, no Estado do Amazonas. A missão é uma das várias que a Marinha do Brasil executa naquela região empregando os chamados navios hospitais.

Para esta, o navio hospital NASH Carlos Chagas, carregou médicos, dentistas, farmacêuticos e enfermeiros junto de medicamentos, vacinas e material médico diverso. No navio, há dois consultórios médicos, dois odontológicos completos, uma sala de cirurgia, laboratório e farmácia.

Segundo o Diretor do HSL, ele sempre teve a vontade de conhecer a Amazônia, “mas não a do turista, e, sim, a Amazônia real. Este trabalho me oportunizou ir aos confins do Estado, o que me deu uma noção real da dimensão, da diversidade e da riqueza que é”.

Uma das primeiras constatações feitas por Roberto, ao chegar ao local, foi de que a vida lá se dá pelos rios. “A gente quando pensa em Amazônia pensa em floresta, mas lá não existem estradas, não existem meios de transporte, nem de comunicação ou de ligação entre as comunidades que não seja um rio. Eles são realmente as artérias que mantém aquilo em funcionamento”. 1

Os cursos de água são tão essenciais para o processo natural, que é justamente por eles que a saúde chega. “A gente viajava (de navio) durante a noite e já encontrávamos a comunidade que atenderíamos no dia seguinte. Em torno de 6h30 da manhã tomávamos café, descíamos para as lanchas, íamos em direção à comunidade e passávamos o dia atendendo.” Quando chegavam às comunidades, médicos e dentistas organizavam rapidamente o local mais adequado disponível para atender a toda a comunidade, explica Etchegoyen. “Pegávamos a criançada e atualizávamos a carteira de vacina. Depois atendíamos a população e não só prescrevíamos como fornecíamos toda a medicação, além de um kit de higiene odontológica para cada um. Quando necessário, até cloro para o tratamento da água de consumo era fornecido”. 6

Esta simples ação voluntária provou ser de grande valia. Em conversa com um paciente, Etchegoyen descobriu que se acontecer algo grave, como picada de cobra, acidente ou alguém ficar gravemente doente, a única alternativa é a voadeira. A voadeira é uma canoa de motor, que, segundo o paciente, demora de 24 à 30h – sem parar – para chegar até Atalaia, local onde têm unidade de saúde. “Imagina uma pessoa mal, doente, sentada numa canoa por 30h?”.

Em outros casos existe a sorte do atendimento a partir de programas da Marinha. “Ela tem quatro navios hospitais que navegam pelos rios da Amazônia. Esses levam dentistas, médicos, enfermeiros, vacinas e contam com laboratório, raio X, e um até tem mamógrafo. Eles fazem as comissões, como eles chamam, em que passam por determinado rio atendendo a população. Mas isso é pouco, pois, por exemplo, o navio que passou no Rio Javari esse ano, só volta a passar no ano que vem”.

Além dos quatro navios da marinha, há também um da secretaria de saúde do Estado do Amazonas. “Curiosamente, este barco havia passado pelo Rio Javari algumas semanas antes, mas ao invés de levar assistência médica, a viagem serviu para recadastramento do Bolsa Família”.

Esse pouco acesso e investimento à saúde revelam o quão grandiosa foi a atividade voluntária realizada durante 15 7dias. “Entrando Amazônia adentro, se vê uma população que vive a situação de isolamento, uma carência de tudo que se possa imaginar. A grande necessidade das pessoas é o básico. E o pouco trabalho voluntário é muita coisa. Uma criança de 2 ou 3 anos num lugar desses que ainda esteja viva é porque é um sobrevivente. Um lugar em que a seleção natural ainda funciona. Quem encontramos são os sobreviventes, são os mais fortes”.

A situação muda a visão de um médico, coloca Roberto. “Primeiro tive que me adaptar, pois no Hospital Santa Lucia exerço minha especialidade com todo apoio tecnológico que preciso, faço a medicina como acho que tem que ser feita, com os recursos que eu julgo necessários. Precisei me habituar a usar apenas o estetoscópio e bom senso.” Ele lembra também que algum exame de sangue até era possível de ser feito no laboratório do navio.

Diante disso, uma das ações era reunir as crianças acima de determinada idade e dar uma dose única de vermífugo para cada uma. “É o básico, é o que eles precisam, nada de aparato tecnológico. Apenas tivemos dois pacientes graves que foram removidos de helicóptero para um hospital perto. Mas a grande maioria das coisas se resolve com uma boa consulta”.

O doutor garante: “é uma experiência que muda a perspectiva que a temos das coisas, e muito enriquecedora. Uma coisa que me impactou muito foi quando entrei numa escola em que iríamos atender e tinha uma parede cheia de desenhos das crianças. Me dei conta que haviam sido feitos por crianças como meus filhos, com os mesmos anseios, as mesmas necessidades e os mesmos sonhos, mas com uma perspectiva de vida bem restrita. Isto me marcou fortemente”. 2

A saudade dos filhos e total ausência de comunicação com a família em Cruz Alta foi sacrificante, coloca Roberto. Mesmo assim, ele pretende voltar e levar outros profissionais de áreas diferentes. “Além da medicina, profissionais de outras áreas também são necessários. Podem ser dadas soluções por engenheiros, por exemplo, para a coleta de água da chuva – pois eles moram no lugar com maior concentração de água no mundo e têm problemas relacionados à água potável. Várias soluções podem ser dadas, as quais necessitam da contribuição de vários tipos de profissionais”. De acordo com Roberto, o comandante da Frota no Amazonas deixou aberto caso outros médicos queiram ir.

Assessoria de Comunicação do Hospital Santa Lucia

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