A chegada do próximo ano se aproxima e com ela a inevitável lista de expectativas começa a ser formulada. Em 2020 a Covid-19 nos privou de coisas que pareciam ser cruciais. Deixamos de conviver com amigos e familiares na frequência habitual e já não fazemos tarefas com a mesma tranquilidade. Ir ao mercado em família, para a escola, manter a rotina de atividades físicas e não precisar ter hora pra voltar do happy hour ficou no passado.
A época de final de ano, por si só, é culturalmente oportuna para alçar novos objetivos e idealizações. Neste ano, tão desafiador para todos, não será diferente, 2021 nem chegou e já está abarrotado de planejamentos, pois acumula os planos do ano anterior e os que se desenharam em meio a este ano de resiliência e aprendizados.
Claramente, 2020 frustrou as nossas expectativas e, por esse motivo, ansiamos com toda a energia por um 2021 melhor – quase perfeito. Chegamos a ver brincadeiras na internet que relacionam o fim do ano ao fim da Covid. E sim, é muito tentador não “curtir” essa ideia.
O que quero dizer com isso? Temos a tendência de idealizar e fantasiar, quase que de forma ilusória, e isso nos afasta da realidade para afagar nosso ego adepto a utopias. Isso acontece porque a nossa estrutura psíquica nos coloca na condição de sujeitos desejantes com a característica de tentar afastar tudo que cause desconforto, já que o principal desejo é o encontro com a satisfação plena e absoluta. Essa busca é infindável, pois se trata de um desejo impossível.
Antes que você encare essa afirmação como algo ruim e desmotivador, ressalto que o fato de não encontrarmos a satisfação total é positivo e gera o desenvolvimento.
Quando entendemos que o sentido está na busca e não na chegada, que são as pequenas satisfações diárias que nos contagiam e motivam a continuar esperando algo, estamos seguindo com foco naquilo que nos causa desejo e nos movimenta em direção a nossa demanda. Ou seja, torna-se mais fácil lidar com as frustrações, elaborando-as como parte do desenvolvimento e autoconhecimento.
Dicas de como lidar melhor com as expectativas e com as frustrações:
– Seja sincero consigo mesmo e realista com seus objetivos, eles precisam ser coerentes com as possibilidades e com o seu projeto de vida, o autoconhecimento é fundamental;
– Tenha paciência para alcançar o que deseja, respeitando os seus limites;
– Tenha clareza sobre suas expectativas, dividindo o que depende de você para que elas aconteçam e o que depende dos outros e daquilo que não está ao seu alcance;
– Se der errado, seja resiliente, lembre-se que a frustração também produz aprendizado. Na próxima tentativa você já terá mais elementos para atingir suas metas;
– Considere que o futuro é cheio de imprevistos, para lidar melhor com eventos inesperados. Caso eles aconteçam, reflita novamente sobre o seu plano e faça os movimentos necessários para alcançar o que espera.
Nas expectativas ligadas aos relacionamentos, exercite a autorreflexão para evitar se frustrar com projeções que são suas, mas que não condizem com o outro. Exponha e dialogue sobre suas expectativas com o outro para que ele tome conhecimento do que é relevante para você. Quem evita esperar algo para não se desapontar faz isso em forma de defesa e por isso se priva de deslumbrar outras possibilidades e geralmente logo ali em frente se encontrará com a frustração.
Preservar a saúde mental, transitar entre as expectativas e a realidade de forma positiva – considerando as nossas limitações -, evita projetar nos outros idealizações que são nossas. Só dessa forma as expectativas, mesmo que cruzem com o inesperado e com algumas frustrações no meio do caminho, proporcionarão o desenvolvimento pessoal.
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