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O que seus filhos realmente fazem on-line?

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Um alerta sobre os riscos do mundo virtual e a experiência do Projeto Sinais no Rio Grande do Sul

A internet faz parte do cotidiano das crianças e adolescentes, mas nem tudo que circula nesse mundo é seguro. Abusadores, comunidades de ódio e estímulos à violência extrema estão presentes online, muitas vezes sem que pais e responsáveis percebam. Para enfrentar esses perigos, o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS), por meio do Núcleo de Prevenção à Violência Extrema (NUPVE), criou o Projeto Sinais, que leva palestras e capacitações a municípios de todo o estado.

O Procurador de Justiça e coordenador do NUPVE, Dr. Fábio Pereira Costa, explica como nasceu a iniciativa:

“No início de 2024, a ABIN, preocupada com a grande repercussão dos atentados a escolas em 2023, acionou o Conselho Nacional de Procuradores-Gerais. A partir disso, o Procurador-Geral de Justiça do MPRS, Dr. Alexandre Saltz, incumbiu-me da missão de criar uma força-tarefa preventiva. Abril terminou e percebemos que os eventos estavam se perpetuando, exigindo atenção redobrada. Além disso, um caso no interior do estado, envolvendo um adolescente em processo de radicalização, exigiu pronta intervenção da rede de apoio e proteção. Foi então que surgiu o inovador Projeto Sinais.”

Riscos e comportamentos de alerta

Segundo o procurador, o ambiente digital é um campo fértil tanto para oportunidades quanto para riscos:

“O mundo virtual não é composto apenas de boas práticas. Radicalizadores e predadores se escondem em ecossistemas cibernéticos e encontram nas redes sociais e jogos online iscas perfeitas para atrair crianças e adolescentes. A partir daí, o caminho para a doutrinação e radicalização encontra-se aberto. Casos de automutilação, zoosadismo e sextorsão, infelizmente, já não são raros.”

Ele alerta que a maior ameaça está na falta de supervisão:

“Famílias e sociedade ainda não compreenderam os perigos reais da internet. Deixar crianças e adolescentes navegarem sem acompanhamento tem custado caro. O fato de um adolescente estar em casa não quer dizer que ele está seguro, pois as telas permitem que eles acessem outra dimensão, sem barreiras linguísticas ou geográficas. O jovem pode estar fisicamente presente, mas sua mente e espírito em outro universo.”

Entre os sinais de alerta, o isolamento é o mais preocupante:

“O afastamento da família e da escola, justamente em uma fase em que buscam pertencimento a grupos, é um grande ‘red flag’. É essencial monitorar o que consomem e perceber mudanças no comportamento antes que uma situação grave aconteça.”

A importância da supervisão

O procurador destaca que supervisionar não significa invadir a privacidade dos filhos:

“Pais e responsáveis devem verificar o que seus filhos consomem, seja por meio de aplicativos de controle parental ou pela checagem física de celulares e telas. O que se propõe não é uma tarefa fácil, mas é necessária e se torna um desafio diário para todas as famílias.”

Resultados do Projeto

O impacto do Projeto Sinais já pode ser medido:

“Cada capacitação amplia o conhecimento e fortalece a rede de proteção, permitindo agir antes que o ciclo da radicalização se consuma. Hoje já alcançamos mais de 10 mil pessoas em mais de 200 municípios, criando uma cultura de prevenção que se multiplica.”

E conclui com um chamado à sociedade:

“É urgente criarmos uma cultura de prevenção e monitoramento. Isso significa conscientizar crianças e adolescentes sobre limites de tempo de tela e, principalmente, sobre os reais perigos do mundo virtual.”

A visão de quem participou: relato de uma mãe e profissional

A analista jurídica do Ministério Público de Panambi, Juliana Escobar, esteve presente em uma das palestras e compartilhou sua experiência.

Como mãe, ela relata:

“A palestra Sinais com o Dr. Fábio Pereira foi reveladora. Fiquei perplexa ao imaginar que nossos filhos, mesmo dentro de casa e sob nossos olhos, poderiam estar em contato com pessoas mal-intencionadas. Hoje percebo que o total controle, a supervisão constante e a restrição de uso são a melhor saída e decisão mais adequada para a educação que eu e meu esposo pretendemos dar.”

Já como profissional, ela ressalta a necessidade de encarar o novo cenário virtual com seriedade:

“Um jovem pode ter identidades distintas no mundo real e no digital. É nosso dever entender esse universo — jogos, redes sociais, até inteligência artificial — para proteger e prevenir situações de violência extrema. Fechar os olhos a isso é omitir-se, e a omissão pode ser ilícita. Nesse ponto, muito me orgulho de trabalhar no Ministério Público do Rio Grande do Sul, instituição pioneira em enfrentar essa realidade com a criação do Projeto Sinais.”

Por fim, Juliana reforça a responsabilidade das famílias:

“Aos pais, peço que não vejam a supervisão como invasão da privacidade. Eles estão em formação, cabe a nós guiá-los. Como é possível educar se não sabemos com quem interagem ou o que fazem no digital? Depois da palestra, uma frase não saiu da minha cabeça: ‘Por que não agimos como nossos pais, que nos perguntavam aonde iríamos, com quem e a que horas voltaríamos? Esse mesmo cuidado do mundo real precisa ser aplicado ao mundo virtual.’”

O recado é claro: proteger crianças e adolescentes no mundo digital é um dever compartilhado entre famílias, profissionais e instituições. Conhecer onde estão, com quem interagem e o que fazem online é o primeiro passo para educar, prevenir riscos reais e garantir um futuro mais seguro.

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