Congresso de Bem-estar e Felicidade, realizado na Fiesp, discutiu alternativas e técnicas para melhorar a saúde física e mental dos profissionais em função do aumento de casos de afastamento de trabalho por depressão e Síndrome de Burnout.
O acúmulo de responsabilidades, a competitividade, o excesso de pressões e cobranças comuns no mercado de trabalho e os novos comportamentos desenvolvidos no mundo moderno, têm aumentado os casos de depressão e Síndrome de Burnout – considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como doença resultante de estresse crônico e esgotamento mental e físico que não foram bem administrados. A OMS aponta que até 2020 a depressão será o maior motivo de afastamento do trabalho no mundo e esse cenário gera um impacto na economia mundial de cerca de US$ 1 trilhão por ano.
Essa realidade tem sido um dos desafios atuais da sociedade. Para discutir como aumentar o bem-estar e a qualidade de vida dos colaboradores, empreendedores e, consequentemente, a produtividade das empresas, o Comitê de Jovens Empreendedores (CJE) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), realizou, no dia 4/7, o Congresso Bem-estar e felicidade, na sede da entidade. O evento contou com um dia inteiro de painéis e workshops sobre temas como propósito de vida, saúde mental, bem-estar, relações sociais, comunicação, alimentação, inteligência emocional, tecnologia e inovação no sistema de saúde e carreira.
Jornalista, locutora e escritora, Izabella Camargo foi diagnosticada com a Síndrome de Burnout em 2018 e, desde então, tem sido voz ativa para prevenir e desmistificar a doença. Ela abriu a programação do Congresso com o painel Saúde Mental e Felicidade e disse que encontrar o seu próprio limite em um mundo sem limites é fundamental para manter a saúde mental e conduzir a rotina de forma equilibrada e saudável.
Síndrome de Burnout: causas, sintomas, diagnóstico, prevenção e tratamento
Segundo ela, ser multitarefa e fazer um uso inadequado da tecnologia geram muitos impactos na saúde dos profissionais.
“Se não pensarmos na educação digital vamos nos sobrecarregar com consequências infinitas”, afirmou a jornalista. Ela também pontuou que “vestir a camisa da empresa é totalmente diferente de se matar de trabalhar” e compartilhou suas experiências profissionais e o caminho que trilhou desde uma demissão inesperada até o diagnóstico da doença.
Dados da OMS apontam que o Brasil é o país mais ansioso do mundo e o mais depressivo da América Latina. Em 2017, os episódios depressivos geraram mais de 43 mil auxílios-doença previdenciários, inserindo a depressão na lista das 10 doenças que mais afastaram os brasileiros do mercado de trabalho, de acordo com a Previdência Social. Izabella destacou que, em 2018, o número de licenças relacionadas a doenças neuronais aumentou em 12% se comparado a 2017. Entre elas estão, além da depressão e da Síndrome de Burnout, o transtorno de personalidade e o déficit de atenção.
A jornalista ainda brincou que se tivesse apenas um minuto de palestra, diria que “dormir não é perda de tempo” e comentou sobre a importância do sono para a saúde.
Falar sobre saúde mental é um tabu, mas o movimento já começou e nós temos que olhar para a saúde mental com mais acolhimento e ela interfere na saúde financeira”, acrescentou Izabella.
Izabella comemora a inclusão da Síndrome de Burnout pela OMS na Classificação Internacional de Doenças, que lista enfermidades que serão prevalentes nos próximos anos.
Atleta corporativo
Assim como os atletas esportivos e de alto rendimento, os profissionais que atuam em outras áreas no mercado de trabalho devem se encarar como atletas, por que não um atleta corporativo? Trabalhar a qualidade de vida e a saúde individualizada para um alto rendimento profissional é importante em qualquer ocupação. Em painel sobre o assunto, o psiquiatra Honório Yamaguti disse que um atleta corporativo necessita das melhores condições mentais e físicas.
“Apesar do reconhecimento de que isto é verdadeiro, poucos sabem como fazer isso”, esclarece. Ele apresentou o uso de nutrientes (vitaminas, aminoácidos e minerais) como fundamentais no tratamento das doenças mentais e como estas descobertas estão conectadas com os avanços das neurociências na busca de uma melhor performance mental e cerebral.
É impossível falar de qualidade de vida e bem-estar sem citar a alimentação como uma das grandes protagonistas.
A alimentação e o tipo de alimento que nós consumimos estão diretamente relacionados à qualidade de vida e bem-estar, pois nós ingerimos nutrientes se nós escolhermos alimentos bons e saudáveis, disse a nutricionista Caroline Trevisan.
Se a alimentação é negligenciada, nós desenvolvemos muitas doenças crônicas como a diabetes, hipertensão, colesterol alto, mas também as doenças mentais. A gente sabe hoje que o déficit de nutrientes leva ao desenvolvimento de ansiedade, depressão, síndrome do pânico. Então, a alimentação tem um peso muito grande quando a gente busca bem-estar e performance em qualquer aspecto da vida, finalizou Caroline.
Inteligência emocional
“Não ensinam a lidar com as emoções na escola”, disse Sâmia Aguiar, psicóloga e mestre em Neurociências e Comportamento, no painel sobre Inteligência Emocional. Ela destacou que entender e lidar com suas emoções é tão importante quanto o aprendizado de matérias como matemática, ciências e português, e revelou cinco fatores-chave para a inteligência emocional: alto grau de autoconsciência, gerenciamento do humor, automotivação, empatia e manejo nos relacionamentos.
Para aplicar os fatores chave na prática, ela sugeriu 10 ideias eficazes e cientificamente comprovadas: meditação mindfulness, escrever sua emoção, psicoterapia cognitiva, mudar a fisiologia (transformar o foco, sair da tensão), praticar a respiração profunda, envolver-se em uma pequena tarefa (ajudar alguém), desenvolver o humor, ser um resolutor de problemas, ressignificar as experiências e desenvolver o otimismo.
Sâmia alerta que as emoções impactam na performance e produtividade. “Eu não consigo ser produtivo, aprender e ser criativo se eu estiver estressado, deprimido e desmotivado”, disse.
Outra coisa que precisamos lembrar é que, essencialmente, as emoções são boas, a raiva bem utilizada nos direciona para os nossos objetivos, gera conflito, mas pode me impulsionar na direção dos meus desejos. O medo nos protege ou paralisa. A gente precisa canalizar as emoções de uma forma positiva e isso tem a ver com inteligência emocional. Somos aquilo que vivemos, somos formados pelas nossas experiências que tornam nossa realidade. A emoção chama para a ação, completou.
Claudia Faria, fundadora da Yoga Adventure, surpreendeu ao falar que a melhor amiga das emoções é a respiração, “um veículo fundamental para dirigir a inteligência emocional”. “A respiração é um instinto. É o único ato do nosso corpo que trafega nos nossos sistemas neuronais: inconsciente e consciente. E pasmem, para todo padrão emocional existe um padrão respiratório”, garantiu.
Tássia Almeida
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