Marcha é como cientificamente é chamada a locomoção humana. É uma tarefa motora que envolve um padrão complexo de contrações musculares em diversos segmentos do corpo. Mais precisamente, a marcha pode ser vista como o deslocamento do centro de gravidade do corpo através do espaço com o menor consumo de energia possível. Segundo a fisioterapeuta Kalina Keller, para que a marcha possa ser realizada dentro dos padrões considerados normais, é necessário que quatro critérios estejam em harmonia.
São eles: a integridade músculo esquelética, o controle neurológico, o equilíbrio e a locomoção.
A integridade músculo esquelética, explica Kalina, é todo o sistema que inclui ossos, músculos e articulações, e que devem estar em perfeito estado físico e integrados entre si. Quando temos algum desgaste nas articulações de quadril, joelho e tornozelo, ou alguma contratura muscular, ruptura de ligamento, etc, isso nos impede uma marcha perfeita, ou seja, nos causa dificuldade ao caminhar.
Já o controle neurológico é quando o comando cerebral e a resposta muscular estão em sintonia e sem nenhuma condição patológica, assim, como a propriocepção* do indivíduo e os estímulos visuais, vestibulares, auditivos, sensitivos e motores. Significa que a nossa capacidade de caminhar é comandada pelo cérebro e pela ativação que ele promove nos nossos músculos. “Por exemplo, quando temos um AVC, temos uma lesão no cérebro que impossibilita que ele faça essa a ativação dos músculos no lado oposto ao da lesão e isso provoca que a pessoa tenha dificuldade ou até impossibilidade de caminhar”, explica.
O equilíbrio é capacidade de o indivíduo assumir e manter ortostatismo*, ou seja, de ficar em pé sem cair. E, a locomoção é a capacidade de iniciar e manter um movimento.
Por que em situações de risco nosso corpo demonstra mais força?
A resposta, explica Kalina, está na chamada reação de luta e fuga. Segundo ela, na presença de estímulos ameaçadores, sendo eles reais ou mesmo imaginários, há ativação do sistema nervoso autônomo, mais precisamente o sistema nervoso simpático, responsável pela liberação de substâncias importantes para que o organismo escolha entre a luta ou a fuga do estímulo ameaçador.
Essa resposta de estresse, aparentemente ruim e temida pelas pessoas, é responsável pela manutenção da vida e é extremamente essencial ao nosso organismo.
Segundo Kalina, graças ao medo, ao estado de atenção, evitamos várias situações que colocariam nossa vida em risco. “Todo estímulo ameaçador é captado por uma área de nosso cérebro responsável pelas respostas emocionais”, diz.
As principais reações de nosso corpo observadas são:
•Aumento da secreção de adrenalina ;
•Aumento da atividade cerebral;
•Aumento da concentração de glicose no sangue, faz com que a energia disponível para todas as células do corpo tenha um acréscimo;
•Aumento da atividade do músculo miocárdio (atividade cardíaca), vasodilatação das coronárias e vasoconstrição dos vasos sanguíneos periféricos, aumentando dessa forma a circulação e a pressão sanguínea;
•Aumento do aporte de energia para os músculos esqueléticos, necessários para correr ou enfrentar o perigo;
•Aumento da atividade das glândulas sudoríparas, causando maior transpiração;
•Redução da atividade peristáltica no intestino grosso, o que aumenta a forma a captação de nutrientes que antes seriam excretados e que agora serão essenciais para o fornecimento de energia;
•Dilatação dos brônquios, para se ter maior captação de oxigênio e melhorando a capacidade respiratória, essencial para a situação de luta e fuga;
•Dilatação da pupila, para captar mais, para que o organismo possa enxergar melhor;
“Através de todas essas alterações que ocorrem no nosso organismo é que em situações de estresse de medo, conseguimos correr mais rápido que o normal, temos mais fôlego e mais força que o normal. Nosso corpo é muito inteligente, sabe exatamente o que precisamos em cada momento e nos protege. Desta forma, sempre temos que buscar conhecê-lo, entendê-lo para poder cuidar melhor de quem instintivamente já nos protege! Só conhecendo o nosso corpo é que somos capazes de, realmente, nos cuidar”, finaliza Kalina.
Kalina Keller é pós-graduada em fisioterapia traumato-ortopédica e é especialista em RPG. Trabalha com Reeducação Postural Global, num tratamento específico para correção e alívio de dores agudas e crônicas na coluna vertebral, fisioterapia convencional para pós-operatórios, pacientes neurológicos e etc. Desenvolve a hidroterapia, fisioterapia dentro da piscina para gestantes, pacientes pós-AVC e pós-operatório geral. Também trabalha com fisioterapia respiratória no pré e pós-operatório da cirurgia bariátrica.
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