Empresas especializadas na criação de gadgets de monitoramento dos sinais vitais movimentaram US$ 9 bilhões em todo o mundo em 2014, segundo o Credit Suisse.
Com expectativa de vida de quase 75 anos, o brasileiro percebeu que é preciso mudar seus hábitos para garantir o envelhecimento com mais qualidade. Depois de viver as facilidades do mundo moderno, com comidas pré-prontas, controle remoto, elevadores e escadas rolantes, a população compreendeu que é necessário se movimentar mais para não adoecer. Procurando continuamente por informações, a população começa a enxergar nos wearables, equipamentos vestíveis para acompanhar os sinais vitais, o caminho para controlar o corpo e melhorar a performance. Os equipamentos se tornam a nova fronteira do segmento fitness que, assim como a alimentação saudável, compõe o mercado em franca expansão de bem-estar.
Os equipamentos podem estar em pulseiras, calçados, roupas e outros acessórios com biossensores, que acoplados ao corpo conseguem monitorar e controlar todas as atividades desempenhadas pelo usuário. Ao utilizar o equipamento é possível acompanhar o número de passos dados, as calorias queimadas, o tempo de atividade física e a distância percorrida e visualizar todas essas informações no visor do dispositivo ou em aplicativos. O mercado de aparelhos que oferecem o automonitoramento é um negócio promissor em todo o mundo.
O segmento foi responsável por movimentar, em 2014, US$ 9 bilhões, segundo o banco Credit Suisse. A expectativa para os próximos três anos (até 2018) é que essa marca salte para R$ 30 bilhões. “O que as pessoas estão procurando é um pouco de transparência sobre o seu corpo. Com esses wearables, é possível fazer o monitoramento do corpo e da saúde de maneira geral e de forma contínua. Por meio de aplicativos para smartphones, o usuário tem acesso a relatórios com orientações para o bem-estar”, explica Immo Oliver Paul, CEO da Carenet, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Aumenta a procura no mercado interno
Enquanto no país o uso de wearables ainda está em crescimento, nos EUA, oito em cada 10 compram esses produtos visando melhorar o resultado da prática de exercícios, segundo a PricewaterhouseCoopers. De olho neste mercado, o suíço Immo Oliver Paul, radicado no Brasil há seis anos, importou, em 2012, alguns equipamentos para ver como o mercado interno reagiria. Atuando no setor de alimentos funcionais, Immo acreditava que, com o monitoramento das necessidades de cada indivíduo, conseguiria oferecer aos usuários algum produto específico de seu portfólio. Em pouco tempo, percebeu que o potencial do novo negócio era muito maior.
Diante desse mercado promissor, surgiu a Carenet, empresa paulista fundada em 2012 com a finalidade de colocar a internet das coisas e a tecnologia para vestir a serviço de soluções de saúde. Desde julho do ano passado, a empresa oferece o Carenet Klip, dispositivo que acoplado ao corpo é capaz de captar os sinais vitais e consolidá-los em um relatório. A ferramenta permite que o usuário tome decisões baseado no funcionamento real, no histórico de vida e de acordo com as metas projetadas. O dispositivo é vendido no site da empresa por R$159,00 e o aplicativo para ter acesso aos relatórios é gratuito.
Para facilitar a visualização e compreensão do usuário de acordo com a própria performance, o dispositivo conta com o “TrueAge”, idade real em tradução livre, em que os dados gerados ajudam a entender melhor o corpo e como as mudanças comportamentais impactam no processo de envelhecimento. Diante das informações de fácil compreensão, os usuários se sentem mais inspirados em cuidar melhor da saúde. Para engajar o consumidor e estimulá-lo a alcançar as metas, a ferramenta utiliza processos de gamificação e há ainda a possibilidade de criar pequenas comunidades para que um cuide do outro ao compartilharem seus desempenhos.
Tecnologia para o bem-estar
Com população cada vez mais em busca de uma vida mais saudável, a empresa, que no ano passado faturou R$ 200 mil espera chegar a R$ 2,5 milhões em 2015. E esse é só o primeiro passo do que ainda está por vir, já que o grande negócio da Carenet é inteligência digital. “Fazendo um salto para o futuro, teremos mais dispositivos no nosso entorno, monitorando informações relevantes para o bem-estar e a saúde. O wearable será apenas um elemento, teremos outros sensores dentro de colchões, na cadeira do carro, do escritório e até dentro do ar condicionado, que processarão os dados para propor mudanças de comportamento para melhorar a qualidade e expectativa de vida do cliente”, comenta o CEO da Carenet.
De olho neste mercado, empresas que não atuam diretamente em tecnologia também estão apostando em inovações. É o caso da marca de sucos Do Bem, que no ano passado lançou uma pulseira inteligente que monitora os movimentos do corpo, captando informações como tempo ativo continuo, calorias gastas, contagem de passos, distâncias percorridas e ainda a qualidade de sono. A Do Bem Máquina é fundamental para a empresa estreitar relacionamento com os consumidores e se posicionar como empresa que está ao lado dos clientes na busca pelo bem-estar e por qualidade de vida.
O gadget é vendido no site da empresa ao custo de R$ 229,00. Fabricado no Brasil, o dispositivo segue os parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS) e, por meio de cores emitidas pelo aparelho, o usuário pode acompanhar em tempo real a própria evolução em relação ao seu tempo ativo consecutivo e, ao longo do dia, buscar atividades para melhorar a performance. O gadget também conta com um aplicativo no qual o usuário tem acesso a relatórios sobre o desempenho do próprio corpo.
Cresce o número de academias
Os dispositivos contribuem para o acompanhamento do organismo, mas ainda são as academias os principais locais para a prática de atividade física. Não por acaso, o Brasil é o segundo país no mundo em números de empreendimentos, com quase 31 mil empresas. O mercado nacional perde apenas para os Estados Unidos, que tem pouco mais de 32 mil unidades. Enquanto por aqui o setor foi responsável por movimentar US$ 2,5 bilhões, o líder do setor faturou US$ 22,4 bilhões, segundo a International Health, Racquet & Sportsclub Association (IHRSA), entidade norte-americana de fomento e incentivo ao mercado focado em saúde e bem-estar.
A diferença no faturamento é em função ao número de clientes. Enquanto nos EUA, as academias atendem 52,9 milhões de pessoas – 17% da população -, por aqui são 7,6 milhões, quase 4% dos brasileiros. O dado mostra que ainda há uma parcela muito grande da sociedade a ser atraída para esse mercado. Com tanta concorrência – que conta ainda com as áreas ao ar livre e gratuitas, como praias e parques -, os empreendedores devem estar cada vez mais preocupados em oferecer um diferencial para atrair os consumidores.
Reter os clientes e mantê-los motivados é o principal desafio das academias, principalmente em ano de crise como este. Para driblar a desistência, a RWhite, fundada na década de 1970 na Zona Norte de São Paulo, oferece eventos e atividades diferenciadas na programação do dia a dia. “Um dos grandes desafios nas academias é criar estratégias para fazer com que as pessoas sejam regulares na prática de exercícios físicos. Que elas não se ausentem por um grande período, pois o corpo vicia em não fazer a atividade e é difícil quebrar a barreira de acomodação”, explica Débora Branco, graduada em educação física e Sócia-Proprietária da academia RWhite, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Mercado impulsiona outros negócios
Os números consolidados do mercado fitness, que têm um público de 7,5 milhões só no universo das academias, fomentam outros setores. É o caso dos suplementos alimentares, que em quatro anos dobraram de faturamento, chegando à marca de R$ 1,2 bilhão em 2014. A expectativa para este ano é de 15% de crescimento, movimentando R$ 1,4 bilhão, de acordo com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Suplementos Nutricionais e Alimentos para Fins Especiais (Brasnutri). Novas empresas surgem de olho neste público preocupado com o bem-estar.
É o caso da Rakkau Suplementos, empresa do Grupo La Pianezza (que também atua na comercialização de alimentos funcionais), que será lançada em maio para oferecer compostos 100% naturais. A marca nasce levantando a bandeira da sustentabilidade de olho no consumidor que está cada vez mais exigente. Além de oferecer suplementos naturais, livres de substâncias sintéticas, os produtos terão embalagens 100% biodegradáveis. Para lançar a nova empresa o grupo está investindo cerca de R$ 1,5 milhão e a previsão é que no primeiro mês movimente R$ 500 mil. A expectativa é que a Rakkau tenha faturamento mínimo de R$ 5 milhões ao fim do ano.
O grupo potencializará os recursos já utilizados pela La Pianezza para distribuir os novos suplementos. Apesar de ainda ser novidade no mercado nacional, a Rakkau Suplementos já pensa em ultrapassar as fronteiras. “Inicialmente vamos começar com a venda direta para lojistas de todo o Brasil e vamos contar com a mesma logística de entrega da La Pianezza, apesar de terem posicionamentos diferentes. Recentemente, estivemos em uma feira nos Estados Unidos e já começamos a negociação para exportarmos o novo produto, para aproveitar o momento favorável com a alta do dólar”, planeja Cleo Neto, sócio do grupo La Pianezza, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Por Roberta Moraes, do Mundo do Marketing.
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